quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A VIDA ESPIRITUAL DOS CRISTÃOS POR OCASIÃO DA VOLTA DO SENHOR




O tema “escatologia” está em alta em nosso tempo. Bons livros foram escritos e há um numero muito grande de estudiosos versados no assunto. Isso é muito bom. A escatologia é um tema fascinante, e uma parte esmagadora dos crentes evangélicos acredita viver os momentos finais da história da igreja. A maior parte dos cristãos crê no arrebatamento, na vinda iminente de Cristo, na grande tribulação, na vinda do anticristo, na batalha do Armagedom e no reinado do milênio. Há, no entanto uma questão que desejo ressaltar: crer na vinda de Jesus não é o mesmo que estar preparado para a vinda de Jesus. Devemos nos lembrar da parábola das dez virgens. Ali todas acreditavam na vinda do noivo, mas apenas a metade estava preparada na ocasião em que o noivo chegou (Mateus 25:1 a 13). Será que essa parábola tem princípios aplicativos para a igreja moderna? A. W. Tozer, escreveu um capitulo cujo titulo é “porque somos indiferentes quanto ai retorno de Cristo, em seu livro O PODER DE DEUS(1). Tozer escreveu sobre a indiferença dos cristãos modernos com relação a uma verdadeira esperança, enraizada em uma vida completamente desligada das emoções artificiais da vida presente. Nossa geração crê na vinda de Jesus, disso não tenho qualquer duvida, mas como há uma diferença básica em crer que ele virá, e estar preparado para a sua vinda, precisamos averiguar as condições atuais da igreja. Tozer argumenta com relação aos crentes modernos: “não significa que tenham abandonado a doutrina do segundo advento. De modo nenhum. Tem havido, como todas as pessoas bem informadas sabem, um ajustamento entre alguns pontos doutrinários menores do nosso credo, mas a imensa maioria dos evangélicos firmes continua sustentando a crença em que Jesus Cristo algum dia voltará de fato a terra em pessoa. A vitória final de Cristo é aceita como uma das inabaláveis doutrinas da escritura sagrada”. O que está errado então? No mesmo artigo que Tozer comentou as palavras acima, ele também afirma categoricamente: “ A esperança da vinda de Cristo está quase morta hoje em dia entre cristãos bíblicos”. Havia entre cristãos de outras gerações, uma aspiração inflamada, apaixonada pela vinda de Cristo, como uma única esperança para experimentar a plenitude das promessas celestiais. os cristãos não se sentiam bem no mundo, havia um contraste entre a igreja como organismo espiritual e o mundo como um sistema maligno oponente. Não necessariamente um dualismo, mas uma guerra, um confronto, real e que na pratica da fé custou a vida de muitos. Havia um tempo em que se sentia o antagonismo na vida cristã pratica. O custo, o preço da peregrinação, da separação, da vida cristã, num mundo regido por forças contrárias está registrado nos anais da historia da igreja cristã. Alguns deixaram o legado desse Confronto. Fox, em seu clássico “O LIVRO DOS MARTIRES” é um exemplo muito claro da verdade que me esforço por transmitir aos leitores. Hoje não há uma esperança de nível pessoal, dentro de um conceito real, inserido em cada momento da vida cristã. É algo mais acadêmico, teológico, e há até esforços de cristãos em implantar um céu na terra, para que não haja retorno de Cristo ou que haja um atraso na sua vinda, ou que não haja necessidade da igreja subir. Falta sobriedade, falta anseio ardente, paixão, amor real. Os confortos e todas as vantagens que o mundo oferece tem apagado a chama por um verdadeiro anseio na igreja. Há certamente focos de verdadeiro clamor para não se apagar o grito do maranata! Porque também em certas partes de nosso mundo caótico, cristãos ainda sofrem a perseguição e pagam até mesmo o preço do martírio por servir a Cristo. Mas essa é uma pequena fração da igreja, às vezes esquecida num ponto obscuro de nosso orbe. Até mesmo nessa questão, falhamos. Há uma indiferença com relação ao cristianismo sofredor que tenta sobreviver em partes do planeta onde viver o cristianismo com fidelidade custa, discriminação, preconceito, e até mesmo a própria vida. Se estivermos desligados e não ouvimos o clamor de uma igreja sofredora, como teremos sensibilidade para ouvir a trombeta soar, quando o Senhor voltar para reunir os seus escolhidos dos quatro cantos da terra?. A sensibilidade de Deus sempre move a sua justiça quando a iniqüidade desse mundo se multiplica e o odor pútrido sobe até as esferas espirituais, levando a repugnância do pecado até as narinas de Deus. Como podemos ser uma geração preparada se não sentimos o odor do pecado, se vivemos num ambiente aqui embaixo, na esfera terrena, embriagada pelo ocultismo, pela iniqüidade e por tantas abominações que surgem no limiar dessa era de trevas do qual identificamos como últimos dias? Uma igreja silenciosa. O silencio sempre significa acordo, trégua. Insensibilidade e falta de compromisso. Não incomodamos o mundo e o mundo não nos incomodará, é a política religiosa defendida por muitos. O silencio, sempre diz alguma coisa, ou pelo menos incomoda. Incomodou Pilatos, quando este interrogava o Salvador bendito e irá incomodar os que penetram na realidade que estou tentando transmitir neste estudo. Estamos aconchegados numa situação em que chamamos de auge da civilização. Faz apenas algumas décadas que um homem quase transformou o mundo num inferno, com um carisma demoníaco, uma atração fatal. Esse homem foi Hitler, o nazismo serviu para avisar que algo pode acontecer antes que esperamos o grande acontecimento: a vinda de Jesus.
Com o mundo não há pactos ou tréguas, quem faz isso com certeza, vai sair perdendo. Tozer adverte: “A nossa presente preocupação com este mundo pode ser um aviso de amargos dias por vir. Deus fará com que nos desapeguemos da terra de algum modo - do modo fácil, se possível; do difícil se necessário. É a nossa vez”. Serão proféticas as palavras de Tozer?

ESPIRITUALIDADE x RELIGIOSIDADE

Há um modo bíblico de analisar uma verdadeira esperança e uma verdadeira espera. Precisamos estar dentro das condições exigidas pelas escrituras, pois há um texto na bíblia que me chama muito a atenção, ela é digna de uma meditação mais profunda por parte de muitos crentes sinceros, mas que não avaliaram o padrão da espiritualidade que estão exercendo nesses dias tão difíceis. Esse texto se encontra em I João 2:28: “E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda”. O vocábulo grego traduzido para a palavra confundido é aischynomai, e significa também “ser envergonhado”. Sair envergonhado, ser confundido nos leva a lembrar das palavras de Jesus em Mateus 7:23: “Nunca vos conheci”. Não desejo radicalizar a questão, mas estou entrando numa via em que a bíblia me acompanha. Certo? Então prossigamos!
Na epistola de João e mais precisamente no texto citado, encontramos uma chave para identificar uma verdadeira esperança, ela está inserida no versículo, e desejo explanar aqui: PERMANECEI NELE. As coisas começam se esclarecendo através dessa admoestação. Por aqui entramos numa estrutura bíblica e espiritual que nos levará a reconhecer uma verdadeira espera pela vinda de Cristo, e uma verdadeira esperança no porvir. Um discurso escatológico bem elaborado não permite deduzir que o seu autor está preparado para a vinda de Jesus, uma vez que já tentei identificar a diferença entre crer na vinda de Jesus e estar preparado para a vinda de Jesus. A palavra grega para traduzida para “permanecer” é MENÕ, e significa continuar a viver ou a existir, persistir, morar, viver. Em outras palavras, a chave que abre o segredo para viver preparado para o arrebatamento é intimidade de relações e comunhão pessoal com o Senhor Jesus. Acompanharão o Senhor nos ares aqueles que acompanham Jesus na terra. Esse não é um modelo muito distante da vida de Enoque, “E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”(Gênesis 5:24).
O relacionamento, portanto faz a diferença, há aqueles que possuem relacionamentos com uma religião, e até com dogmas e rituais, mas não possuem um relacionamento pessoal com Jesus. Estou tentando explicar isso dentro de uma perspectiva cristã. Quando o cristianismo é tomado como religião, palavra que nunca foi professada por Cristo, e pelo que se sabe foi citada apenas uma vez no novo testamento, ainda assim com conotações positivas dentro do contexto do ensino que Tiago queria apresentar. O cristianismo é muito mais que um conjunto de regras e preceitos como muitos pensam e acreditam. Mas um relacionamento muito especial com alguém muito especial, vivo e verdadeiro e que voltará pessoalmente para os seus. Lemos em apocalipse 1:6, que todo olho o verá, mas lemos também em Mateus 5:8 que os puros de coração verão a Deus. E somente os que estão preparados para o arrebatamento, estarão aptos para contemplar o Senhor da glória.
Martyn Lloyd-Jones escreveu: “O que é o seu cristianismo? É apenas um conjunto de proposições que você procura manter, um grupo de regras que você pratica, ou há lugar para um relacionamento intimo, pessoal, essa consciência de que você está sempre sob o olhar de Dele e de que todas as coisas que você faz, pensa ou imagina são do conhecimento de Jesus? Essa questão é absolutamente vital, se de fato, desejamos conhecer as reais bênçãos da vida cristã”. Pelo fato da vida cristã ser uma comunhão pessoal com uma pessoa, é preciso avaliar o tipo de cristianismo que estamos vivendo, pregando ou ouvindo. Nesses últimos e decisivos dias em que um relacionamento falso e a pratica de um cristianismo falso são mais plausíveis do que nunca, precisamos examinar nossa fé evangélica para saber se de fato ela é evangélica. a comunhão e a intimidade com um Cristo vivo, ressurreto, glorioso, uma obediência e uma amizade plena com ele, são qualidades essenciais para identificar a veracidade do nosso cristianismo. Francis Schaeffer, famoso pensador cristão, assim se expressou com relação a ressurreição de Cristo: “A realidade da ressurreição não é algo que possamos empurrar para uma dimensão estranha. Ela tem sentido em nossa dimensão normal” o que Schaeffer quis dizer com isso? Que o Cristo vivo está perto, na nossa realidade espiritual, ele está vivo, e podemos desfrutar da sua vitalidade, podemos viver nele, e esse era o nível espiritual dos cristãos primitivos, aqueles cristãos do primeiro século tinham uma viva esperança do retorno gloriosa de Cristo, eram inflamados por uma intima paixão por ele. Numa época que a cruz vai perdendo seu valor, e a crença num relacionamento pessoal, é substituída por interesses egoístas e tantas coisas estranhas, que são associadas com o cristianismo, se faz necessário reavaliar os pontos centrais da fé cristã, para ver se realmente estamos no centralizados. J.C. Ryle, escreveu: “porque o crente é moderado em todas as coisas? Porque ele está esperando o seu Senhor que em breve haverá de voltar. O seu tesouro está no céu; as coisas boas do crente ainda jazem no futuro. Este mundo não é o descanso do crente, mas apenas uma hospedaria à beira do caminho, e uma hospedaria não é um lar. O crente sabe que Aquele que vem virá e não tardará” Ryle escreveu esse texto, extraído do seu livro “SANTIDADE” há uns 100 anos atrás. E com certeza, sua descrição de um crente já não se encaixa com a mentalidade da nova geração de evangélicos que conhecemos hoje! A razão para isso é que a bendita esperança produz algo sobrenatural na vida do crente: uma fé no invisível, um descanso nas promessas e um ardente desejo do céu. O verdadeiro crente, ou pelo menos aquele que vive a bendita esperança do retorno de Cristo, na dimensão da realidade que a bíblia exige, geme, anseia, espera, no sentido exato da palavra. Porque ele vê com olhos espirituais e enxerga a condição em que o mundo está. Consegue ver o movimento das coisas espirituais do mundo, e sabe que atrás do cenário, o mistério da iniqüidade opera com eficácia, para ludibriar, enganar e cauterizar a todos, independente de credo ou convicção religiosa. O projeto satânico para os últimos tempos é oferecer um paraíso terrestre para que o homem não sinta a necessidade de olhar para cima, seu projeto inclui o envio de falsos cristos, para que os homens não aguardem o verdadeiro Cristo que de cima descerá. Em seu projeto ele soma a paz, a liberdade, e tantas outras ideologias confortadoras, para que todos se sintam bem a vontade e não haja uma sede e uma fome pelas promessas do evangelho. Satanás constrói ídolos espirituais e os chama de Cristo, eles se apresentam como mestres ascensionados, Ets, espíritos avançados, e enfim tenta e não poupa esforços para semear a confusão, o erro e o engano.

O PADRÃO DO CRENTE QUE ESPERA.

A vida cristã genuína, não é uma vida conformada com este mundo, “E não sedes conformados com este mundo, mas sede transformado pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”(Romanos 12:2). A nossa espiritualidade tem três estágios progressivos, o primeiro é a nova vida que recebemos em Cristo, por ocasião da conversão (II Corintios 5:17) o segundo inclui passos graduais à transformação da nossa imagem, conforme a imagem de Cristo(Romanos 8:29), o terceiro tem conotações plenamente escatológicas, quer na tumba ou vivos por ocasião da sua vinda seremos transformados, para sermos conforme Cristo foi, quando ressuscitou, ou seja teremos um corpo incorruptível semelhante ao dele(I Corintios 15:51 com Filipenses 3:21).
Essa viva esperança tem efeito no comportamento dimensional do crente, tanto na vida espiritual quanto na vida secular. Por isso encontramos traços distintos entre uma verdadeira espera, e entre uma crendice teológica na vinda de Cristo, para salientar essa afirmativa cito novamente a parábola das dez virgens de Mateus 25, todas acreditavam na vinda do noivo, mas a metade estava preparada. Há uma diferença inquestionável entre as prudentes e as imprudentes. Não podemos negligenciar em hipótese alguma o que Jesus quis ensinar nessa parábola. Segue o fato que há crentes que participam da vocação celestial, e consideram Jesus, apostolo e sumo sacerdote da nossa confissão (Hebreus 3:14). O padrão do crente que aguarda o Senhor é revelado pelo seu caráter formado por sua vida piedosa, uma soma das virtudes que ele semeia no seu homem interior, pois o crente que aguarda, é o crente que quebrou seus laços com o mundo e busca em todas as atitudes ser amigo de Deus. Seus passos, portanto levam para a busca da santificação (Romanos 8:9), eles sabe que a santificação é uma exigência básica nas escrituras. Por isso ele a procura, e dará espaço na própria vida para que o Espírito Santo opere essa santificação nele. Ele também tem traços distintos no zelo missionário, sabendo que pouco tempo resta, e que tudo aqui se tornará em ruínas. Ele vê a multidão que padece e se compadece. Por isso se dedica ao trabalho sagrado, sabendo que tudo o que é edificado para o sistema será destruído, mas tudo o que é realizado em prol do reino de Deus terá recompensa. Ele tem zelo por tudo o que é sagrado e espiritual.(Mateus 25:16 e17) ele também tem um profundo amor pelas coisas santa, ama profusamente os irmãos e o próximo, não tem uma vida centralizada no eu e nos caprichos próprios, mas uma vida dedicada no serviço ao próximo.(Gálatas 5:6 I João 4:20 e 21). A vida que descansa na esperança da segunda vinda de Jesus, também tem estabilidade espiritual, não é ambicioso e desfruta de uma liberdade produzida pela habitação do Espírito Santo no seu coração. Ele espera, não é uma espera passiva, mas mobilizadora. A expressão da vida que tem uma verdadeira esperança e de dedicação a piedade, e busca em conduzir outros para o caminho do compromisso e da intimidade com Deus. Outra qualidade distinta numa alma que tem no coração a semente de uma verdadeira espera é a paciência. Ele sabe que Jesus virá, e sabe onde encontrar a paciência para que a esperança esteja viva dia após dia. Ele adormece com a esperança viva no coração, amanhece, e ao despertar a esperança não morreu continua viva, e assim prossegue a sua caminhada, com a certeza dentro de si que um dia a trombeta vai tocar e ele então participará daquele glorioso evento. Outro fator marcante na vida do crente que tem uma verdadeira espera é a ausência de medos, ele não teme a morte, não teme catástrofes, não teme as ameaças que o mundo traz escondida na existência terrena. Ele está seguro em Deus, sua fé e sua comunhão produzem intima comunhão com Cristo, nenhuma escuridão, por mais densa que seja pode ameaçar uma alma entregue aos cuidados do Cristo que é a mais radiante e viva luz espiritual que existe. O crente que espera também é confortado, ainda que sua vida está por um fio, ele sabe que a sepultura não tem poder suficiente para reter o seu corpo e destruir sua existência. Há uma viva convicção do seu coração que o conforto de ser primicia, produz alegria e conforto(I Tessalonicenses 4:13 a 18). Os crentes que possuem uma verdadeira esperança pela vinda do Senhor estão dispostos a sofrerem o desprezo deste mundo, a olharem para frente com firmeza e não se deixam levar pelas paixões da velha natureza “Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância” (I Pedro 1:14).
A esperança do crente verdadeiro é inabalável porque não está alicerçada em ideologias, mas numa verdade, numa promessa feita pelo próprio Cristo. Ele voltará, e a igreja de Cristo, possui suas lâmpadas e suas vestes, que naquele dia os servirá, parcialmente, se o óleo não for suficiente. Jesus quer induzir cada crente ao preparo, a vida de diligencia, uma atenção voltada para a nossa condição espiritual. Podemos ter todos os aparatos, mas quando a trombeta soar, as lâmpadas podem estar apagadas, quanto serão apanhados de surpresa naquele dia? “Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos” (I Tessalonicenses 3:13)
CLAVIO JUVENAL JACINTO

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